"Faço de minha vida a minha grande peça, escrevo-a a cada momento, a cada instante, pois sei que não terei tempo o suficiente de sentar-me e prospecta-la, por isso vou experimentando ações, emoções e conceitos. E nessa minha constante Pesquisa de Convivência vai se formando meu protagonista de mim mesmo, assim atuo nos improvisos, e vivo os fatos mais imprevistos que alguém pode viver"

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Espetáculo Identidade


“...Sou Negro, meus avós foram queimados pelo sol da África, minha alma recebeu o batismo dos tambores atabaques, gonguês e agôgores, contara-me que meus avós vieram de Loanda como mercadoria de baixo preço, plantaram cana pro senhor do engenho novo e fundaram o primeiro maracatu...”

O espetáculo Identidade, baseado em poemas de Castro Alves, Solano Trindade e em trechos da peça “Arena contra Zumbi” de Augusto Boal, nos trouxe um pouco do universo africano que está fortemente presente em nosso cotidiano.
Uma peça que fala de luta, resistência, superação e principalmente da crueldade de homens que se julgam por causa de etnias, o tema identidade dentro dessa peça me fez me enxergar o quanto cidadão brasileiro, descendente de uma grande parcela de africanos, descendente no dialeto, na musica, na dança, nas crenças, na culinária enfim, brasileiro descendente de algum africano que foi exportado como mercadoria barata no período colonial.

Um espetáculo cheio de historia, de fatos, ou melhor, uma peça cheia fatos que marcaram a historia, a historia que pertence a cada um de nós, que compõe sua memoria e contribui para a construção de uma identidade coletiva, a peça traz uma historia em comum, a historia do Brasil.
O que da o nome a peça é a musica “Identidade” de Jorge Aragão, a poética da musica critica negros que se envergonham de serem negro, a musica critica negros que contribuem através de pequenos atos com o racismo, ou melhor, “etnismo”, particularmente acredito que somos todos da mesma raça, só que de etnias diferentes, por isso prefiro não falar de racismo, e invento uma palavra pra isso, ao invés de racismo digo etnismo.


 Trabalhei neste espetáculo onde pude reconhecer um pouco mais de minha identidade, representei escravos que sofreram, mas também através da dança afro representei uma divindade, o mito do Orixá Ogum, que é um emblema de luta e resistência, esses valores que fizeram parte da identidade dos negros escravizados no Brasil colonial.


Uma bela produção com cânticos africanos nas vozes de um coral de crianças, uma produção o marcada pelo impacto e coragem de levar ao palco um período tão horrendo de nossa historia, e de não ter medo de afirmar que este passado de escravidão está tão presente o quanto se imagina.

 

Ainda bem que “ZUMBI não Morreu”, (como falamos na peça) “...ele se multiplicou, ele renasce em cada um que se levanta contra a opressão e contra os ranços da escravidão...”
E Zumbi dos Palmares, mais uma vez renasce em mim, pois estou tendo a oportunidade de reviver um outro processo de criação em cima deste texto, agora com os artistas do Instituto Religare, tendo a chance de mais uma vez me identificar com a peça Identidade.





A Letra da Musica que nomeou a peça: 

 Identidade
Elevador é quase um templo
Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...
Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história
 
Se o preto de alma branca pra você
É o exemplo da dignidade
Não nos ajuda, só nos faz sofrer
Nem resgata nossa identidade
Elevador é quase um templo
Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...
Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história

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