"Faço de minha vida a minha grande peça, escrevo-a a cada momento, a cada instante, pois sei que não terei tempo o suficiente de sentar-me e prospecta-la, por isso vou experimentando ações, emoções e conceitos. E nessa minha constante Pesquisa de Convivência vai se formando meu protagonista de mim mesmo, assim atuo nos improvisos, e vivo os fatos mais imprevistos que alguém pode viver"

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Teatro, Espelho de Todos os Povos


É nesse  tempo que estamos vivendo, nesse tempo onde qualquer "coisa" é chamada de teatro, em que as manchetes de jornais escancaram em suas páginas com letras maiúsculas frases do tipo "O TEATRO DO PLENÁRIO BRASILEIRO" "O CIRCO DA CORRUPÇÃO" e outras frases que já li por ai. Enfim, venho nesse artigo expor a minha visão a respeito dessas comparações simplesmente desnecessárias, e gritar neste texto que "TEATRO NÃO É MENTIRA!", a drástica situação da legislação brasileira ou até manipulação da mídia não deve levar o nome do teatro, não vale a comparação que a mim chega a ser ofensiva. 

Antes de tudo, quero deixar registrado aqui a razão de estar falando sobre esse assunto:
Existem pessoas que batalham a vida inteira, estudam por longos anos, gastam com condução, pagam altos impostos diariamente, só para conseguir chegar aos seus cursos, reuniões, ensaios e apresentações, isso para serem merecedores do título de atores/atrizes, pessoas que muitas vezes não tiveram uma escola gratuita de Arte perto de suas casas, pessoas que não se enquadraram naquele artigo da constituição que reza que "Todo cidadão tem Direito de acesso á CULTURA, educação e Lazer", pessoas que vivem escrevendo projetos, perseguindo editais, vencendo burocracias do sistema, pessoas que não vivem de fomento e que muitas vezes precisam trabalhar para se manterem nessa versão de mundo capitalista que sempre vivemos, são pessoas, cidadãos, homens, mulheres, meninos e meninas que sonham que o mundo (pelos menos o que eles vivem) pode ser transformado por sua arte.

São por essas pessoas que escrevo isso, pois não merecemos de forma alguma sermos comparados com pessoas que possuem uma índole tortuosa e que em um cargo publico, são capazes de saquear e extorquir dos próprios que os elegeram.

O Teatro não é mentira, para entender isso podemos recorrer á etimologia da palavra Teatro, podemos perceber  que o significado do TEATRO tem uma forte ligação com o ato de se enxergar, de se ver, de se reconhecer. Teatro é o lugar onde o homem se vê. Ele não é a "Arte do faz de Conta", igual muitos dizem por ai, pelo menos para mim não é. Pois enquanto uma personagem (seja ela qual for) estiver em cena em seu ato de dor, alegria, amor, desespero entre outros. Muitas pessoas naquele exato momento, em qualquer lugar do planeta estará vivenciando aquilo que para a personagem é só teatro. E aqueles sentimentos interpretados são reais e verdadeiros, tanto no ator, quanto no espectador, na pessoa que passa do lado de fora, ou naquela que está em outra cidade. Teatro não é uma mentira, é uma reapresentação do ser humano e das suas milhares situações e sentimentos criados por ele.

Se o ato de mentir é comparado com o fazer teatral, e se o teatro apresenta tudo o que há em nós e em nossa sociedade, eu vos pergunto, onde é que está a raiz da mentira? 
O teatro em sua manifestação, quando se tem um compromisso social e não apenas financeiro ou de enterterimento, ele é espelho, é o grande espelho que reflete o homem e sua sociedade, seus atos, seus tempos, suas organizações e tudo aquilo que está presente no individuo e no seu coletivo. Esse teatro, não reflete apenas, mas aumenta, engrandece para que seja visível e compreendido até pelos mais desprovidos de inteligencia. O Teatro que não instiga, que não influencia, que não desperta, que não provoca e que não acusa, é considerado pobre na minha ótica. E não é esse teatro que defendo neste artigo.

Atores/Atrizes não são mentirosos, enganadores, fingidos, muito menos iguais aos políticos que roubam o seu próprio povo, esses artistas são re-apresentadores, são construtores que reconstroem a vida humana em um curto espaço e tempo, na tentativa de induzir o espectador (atores sociais) ao pensamento e a mudança, individual e coletiva.
E para esses artistas que já não possuem significantes retribuições financeiras, "deixe no chapéu" o merecido respeito e valorização desta profissão e deste fazer artístico, tão árduo quando qualquer outro trabalho. Quando falo de trabalho árduo, Não incluo os políticos ladrões. 

E o Teatro... Não é mentira, pelo menos o meu. 

Hedcley Barros











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Espetáculo "Luar do Sertão - Luiz Lua Gonzagão"


"Meu povo preste atenção, é chegado o centenário... do grande rei do baião, o Luiz de Januário"




No espetáculo "Luar do Sertão - Luiz Lua Gonzação" a vida do nordestino foi retratada, o espetáculo musical criado para homenagear o centenário do grande sanfoneiro, conhecido e aplaudido em todo o pais (Luiz Gonzaga), também trouxe para o palco a vida do simples nordestino brasileiro, castigado pela seca de sua terra, e dos viajantes que partem para o sudeste em busca de novas condições de vida.

Com direção musical de Fernando Antunes e com coreografias de Natalha Ferreira, a peça trouxe para o palco que foi montado em praça pública, um pouco das manifestações nordestinas, apresentando ao publico paulista um pouco da riqueza cultural que abrange essa região de nosso país. Coreografias de coco, xote, baião e xaxado marcaram presença neste espetáculo juntamente com um repertório magnifico, montado com as músicas de Luiz Gonzaga.
Já na parte teatral, personagens do cenário nordestino foram apresentados por típicos contadores que abrilhantavam suas histórias, tendo seus textos todos estruturados na literatura de cordel, escrito por Peterson Xavier.
A peça contava um pouco da grandiosa história de Luiz Gonzaga, e suas cenas alegres, rimadas e descontraídas desenhavam o sertão da cidade de Novo Exu em plena praça do estado de São Paulo. Dona Juvita, Samarica Parteira, Rezadeiras, Lula, Capitão Bardino e o Viajante Nordestino foram importantes personagens criados para narrar o cotidiano do nordeste brasileiro na época de Luiz Gonzaga.
O processo de criação, foi intenso, estudos da cultura popular foram fundamentais para a criação desta obra, sem contar com a preparação corporal rígida e exigida pela coordenação das Dança feita por Natalha Ferreira.
Este foi um processo prazeroso, de muito trabalho e dedicação á arte. Resgatando assim um pouco da cultura do nordeste, esta que é tão desvalorizada nos dias de hoje. Mas como dizíamos no espetáculo... Com a figura lendária de Luiz Gonzaga, tudo brasileiro se torna antes de tudo... Um Nordestino.


ELENCO TEATRO/DANÇA
Andreza Pereira / Argel Souza / Denyse Amaral / Fabiana Medrado / Hedcley Barros / Jessica Santana / Luiz Felipe / Mikael de Almeida / Priscila da Silva / Taiane Carvalho



VEJA AS FOTOS:
Cia. de Dança da Casa de Cultura



Hedcley Barros e Priscila da Silva
































COREOGRAFIA DE COCO NORDESTINO








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Espetáculo "ERGOS"



O espetáculo Ergos, com Direção Teatral de Peterson Xavier e Direção Musical de Fernando Antunes, realizou uma viagem pelos caminhos da mitologia grega em busca de representar as fontes geradoras de energia. Adptado do Teatro de Arena para o palco italiano, a peça trouxe em seu contexto os elementos Água, Ar e Fogo, foram apresentados de forma simbólica e poética neste espetáculo, transmitindo ao conhecimento do publico, preciosas histórias como o mito grego do surgimento do fogo, dos ventos e das águas. Tratando assim, da energia elétrica e suas fontes.


A linguagem usada no processo de criação deste espetáculo, foi as linguagens circenses, a peça foi repleta de representações que trouxeram para o palco manifestações e números tipicamente realizado em circos, como por exemplo, a pirotecnia, acrobacias, malabarismo e até a linguagem do palhaço foi empregada na montagem, tornando assim o espetáculo descontraído e apropriado para toda a família. Nesta produção eu tive a honra de interpretar a figura do Titã Prometeu, sendo este um personagem da mitologia grega, responsável por trazer o elemento do fogo a Terra e aos homens.

Segundo o mito, Zeus era o único possuidor do fogo, o fogo por sua grande potencia luminosa, era considerado pelos gregos como um simbolo de conhecimento, compreendendo que a luz esclarecia a mente e assim possibilitava ao homem se enxergar, e enxergar seus semelhantes, iniciando o processo de raciocínio.
Neste tempo antigo, os homens viviam na escuridão, 
segunda a história o homem havia sido criado por prometeu usando como matéria prima, o barro, depois de criar o homem, o grande Titã percebeu que ainda lhes faltava algo, pois suas matérias eram incapazes de se animarem, foi quando Prometeu resolveu intervir com uma solução.

E foi assim que o Titã Prometeu provou o seu amor á especie uma, ele audacioso se aventurou e roubou o fogo que estava sobre o domínio de Zeus, entregando este poderoso elemento para o ser humano, a partir deste momento, o homem inerte, concebeu a sabedoria que trazia a luz, segundo o mito este foi o ponto de partida para a construção da arte, da filosofia, dos sentimentos e de tudo que engloba a mente humana.



 O elenco contou com grandes atores e amigos, a relação entre os atores durante o processo de criação desta peça, foi um dos acontecimentos que mais contribui para o despertar da criatividade tão importante neste trabalho, neste espetáculo tive a chande de mais uma vez dividir a cena com Priscila da Silva, Taiane Carvalho, Andreza Pereira, Fabiana Medrado, Mikael de Almeida, Lucas Oliveira entre outros.



FOTOS "ERGOS" (PALCO ITALIANO)








 FOTOS "ERGOS" (TEATRO DE ARENA)

A primeira montagem do espetáculo Ergos, foi criada para o Teatro de Arena, e foi apresentada em Julho de 2011 na praça do conjunto de habitacional no bairro Portal I, em Osasco. Esta apresentação noturna, foi prestigiada por mais de 800 pessoas que se instalaram em suas janelas, calçadas e escadarias para assistirem nosso espetáculo. O período de adaptação da peça do Teatro de Arena para o Palco Italiano, foi de sete meses.
O Ergos me deu a chance de vivenciar a Arena, e me mostrou a importância de se conhecer mais de uma estética teatral. Muito emocionante, impossível descrever aquele energia que me arrepiava tanto na rua quando no palco.  




                                                 



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"Reis de Aruanda - A Luta pela Valorização"

Entre os meses de Agosto e Novembro, eu juntamente com os integrantes da Cia Clareou estivemos ocupados, conhecendo e se surpreendendo com o "Povo de Orixá", nós estudamos e produzimos um espetáculo chamado "Reis de Aruanda" e transmitimos ao publico os verdadeiros valores destes Reis, Rainhas, Guerreiros e Princesas da Cultura Africana.
O espetáculo “Reis de Aruanda” é uma obra teatral criada com o objetivo de esclarecer e desestigmatizar a nuvem de preconceitos que encobre o entendimento de muitas pessoas a respeito das crenças, valores e universo simbólico, trazidos pelas diversas tribos africanas que vieram para Brasil no período da escravidão. Através deste espetáculo pregamos o respeito ás diversidades culturais presentes em nosso território nacional.

  

O espetáculo teatral “Reis de Aruanda" se iniciou com pesquisas durante o segundo semestre de 2011. Eu e os integrantes da “Companhia Clareou” percebemos que na comunidade em que atuamos existe um forte preconceito e discriminação no que se refere as crenças, religiões ou cultos de influência africana. Então, decidimos em consenso elaborar uma peça teatral que abordasse os mitos dos Orixás, esclarecendo possíveis interpretações enganosas a respeito deste universo religioso. Preconceito possivelmente perpetrado pela grande maioria evangélica existente na comunidade do Colinas do Oeste, Osasco-SP. Assim, realizamos pesquisas em livros, internet, casas de cultos afro-brasileiros da comunidade e do entorno, além de consultas e seminários com a antropóloga Liliane Lemos para obter uma instrução mais sólida sobre o tema.

  Nosso método de trabalho consistiu em dois períodos, um teórico envolvendo seminários e pesquisas sobre o determinado tema, e outro prático repleto de experimentações e composições cênicas. O espetáculo “Reis de Aruanda” apresenta uma composição cênica com os elementos pertencentes ao universo da cultura Iorubá tais como: suas danças, cores, musicas, mitos, símbolos e significados. Representa a beleza dos Orixás em cena, valorizando nossa origem africana e tecendo num diálogo entre o passado e o presente ao estabelecer uma ponte entre o período do escravismo no Brasil até os problemas sociais dos dias de hoje.



FICHA TECNICA DO ESPETACULO:
Direção Geral: Hedcley Barros
Produção: Cia Clareou
Preparação Musical: Flávia Mello
Preparação Corporal: Maria Jaqueline
Preparação Cênica: Hedcley Barros
Figurinos: Priscila da Silva
Cenário: Cia Clareou

Elenco:
Andreza Pereira/Flávia Mello / Hedcley Barros / Milkael de Almeida / Priscila da Silva

Fotos do espetáculo "Reis de Aruanda":





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Espetáculo Identidade


“...Sou Negro, meus avós foram queimados pelo sol da África, minha alma recebeu o batismo dos tambores atabaques, gonguês e agôgores, contara-me que meus avós vieram de Loanda como mercadoria de baixo preço, plantaram cana pro senhor do engenho novo e fundaram o primeiro maracatu...”

O espetáculo Identidade, baseado em poemas de Castro Alves, Solano Trindade e em trechos da peça “Arena contra Zumbi” de Augusto Boal, nos trouxe um pouco do universo africano que está fortemente presente em nosso cotidiano.
Uma peça que fala de luta, resistência, superação e principalmente da crueldade de homens que se julgam por causa de etnias, o tema identidade dentro dessa peça me fez me enxergar o quanto cidadão brasileiro, descendente de uma grande parcela de africanos, descendente no dialeto, na musica, na dança, nas crenças, na culinária enfim, brasileiro descendente de algum africano que foi exportado como mercadoria barata no período colonial.

Um espetáculo cheio de historia, de fatos, ou melhor, uma peça cheia fatos que marcaram a historia, a historia que pertence a cada um de nós, que compõe sua memoria e contribui para a construção de uma identidade coletiva, a peça traz uma historia em comum, a historia do Brasil.
O que da o nome a peça é a musica “Identidade” de Jorge Aragão, a poética da musica critica negros que se envergonham de serem negro, a musica critica negros que contribuem através de pequenos atos com o racismo, ou melhor, “etnismo”, particularmente acredito que somos todos da mesma raça, só que de etnias diferentes, por isso prefiro não falar de racismo, e invento uma palavra pra isso, ao invés de racismo digo etnismo.


 Trabalhei neste espetáculo onde pude reconhecer um pouco mais de minha identidade, representei escravos que sofreram, mas também através da dança afro representei uma divindade, o mito do Orixá Ogum, que é um emblema de luta e resistência, esses valores que fizeram parte da identidade dos negros escravizados no Brasil colonial.


Uma bela produção com cânticos africanos nas vozes de um coral de crianças, uma produção o marcada pelo impacto e coragem de levar ao palco um período tão horrendo de nossa historia, e de não ter medo de afirmar que este passado de escravidão está tão presente o quanto se imagina.

 

Ainda bem que “ZUMBI não Morreu”, (como falamos na peça) “...ele se multiplicou, ele renasce em cada um que se levanta contra a opressão e contra os ranços da escravidão...”
E Zumbi dos Palmares, mais uma vez renasce em mim, pois estou tendo a oportunidade de reviver um outro processo de criação em cima deste texto, agora com os artistas do Instituto Religare, tendo a chance de mais uma vez me identificar com a peça Identidade.





A Letra da Musica que nomeou a peça: 

 Identidade
Elevador é quase um templo
Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...
Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história
 
Se o preto de alma branca pra você
É o exemplo da dignidade
Não nos ajuda, só nos faz sofrer
Nem resgata nossa identidade
Elevador é quase um templo
Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...
Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história